Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/293

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— O levante de Tracunhaém, essa liga tremenda de que é cabeça Falcão d'Eça.

— A liga de Tracunhaém - respondeu Machado - não é propriamente levante, sr. ouvidor. E em que aproveitaria a sindicância que dela se fizesse?

À proporção que a noite ia se adiantando, a sala onde se realizou este diálogo enchia-se dos principais da parcialidade oposta à nobreza. Todos corriam a certificar-se da notícia ouvindo-a da boca de Félix José Machado. Todos tinham os olhos em Olinda, e os ouvidos à escuta; e não era sem razão que o faziam porque ali começavam a manifestar-se estranho e geral regozijo. As casas e as igrejas estavam iluminadas. Repicavam os sinos; bandas de música, improvisadas em poucos momentos, percorriam as ruas, derramando o movimento e a alegria onde horas antes era tudo imobilidade e recolhimento. Os ecos da demonstração febril e vibrante, ondulando por cima das águas mansas do Capibaribe, por cima dos tufos verde-negros, pitorescos e murmurosos dos mangues, que bordavam as suas ilhas e margens, vinham ferir os tímpanos dos ouvidos da burguesia portuguesa que enchia as salas do palácio das duas torres, e nesses ecos parecia escutar os de uma orquestra fúnebre.

No outro dia, pela manhã. à porta dos principais mascates, amanheceram papéis com ridículas caricaturas e sátiras ferinas, alusivas ao destroço daquela