Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/298

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de encontro a uma pedra onde se feriu, ficando com a camisa lavrada de longas machas de sangue.

Como tinha feito tenção de ir ver um pedaço de terra, do lado de Jopomim, que lhe fora oferecido pelo dono que o vendia por pouco dinheiro, prosseguiu o caminho, não obstante o desastre e a má aparência.

Depois de andar cerca de meia hora, deu na várzea que de há muito não via, a várzea do Jopomim, por onde brincara alguns anos antes, pegando canários e gurinhatãs, quando o seu espírito discorria por horizontes sem nuvens nem limites, quando no seu coração não havia nenhum espinho.

De repente ouviu umas vozes femininas que partiam de ponto não muito distante do em que estava. Com pouco descobriu, de fato, duas mulheres, uma das quais trazia um saco nas costas, e era acompanhada por um cão, que farejava de moita em moita, e às vezes parava de latir. Então a mulher aproximava-se do lugar, arreava o saco, inclinava-se para o chão, e aí apanhava, ora rindo-se ora fugindo com o corpo e as mãos, um objeto que, com toda a precaução, atirava dentro do saco. Lourenço compreendeu logo que a mulher andava apanhando goiamus.

A outra, que estava mais perto dele, e parecia mais nova, em vez de imitar a mais velha, colhia araçás aqui e acolá, e atirava-os dentro de uma cuia, correndo e saltando com os cabelos soltos, de um