Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/304

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Quem soubesse dos precedentes entre as duas famílias, que circunstâncias supervenientes tinham separado, havia de cuidar que a filha de Joaquina, tão solícita em preparar digna recepção à suas antigas amizades, entre as quais se compreendia Francisco, seu padrinho, estava nadando em satisfação.

Mas a verdade é que bem diverso sentimento dominava Marianinha. Em vez de clarões suavíssimos, clarões e esperanças, tinha no espírito nuvens negras, nuvens de desgosto invencível. A vinda de Lourenço avivara todo o seu passado de que não restavam na lembrança dela senão quadros desbotados, quase extintos; e o passado não lhe era agradável, porque nunca Lourenço lhe dera motivos de verdadeira satisfação, antes quase sempre a contrariara.

Marianinha passou toda a noite pensando no que havia de fazer. Lourenço para ela já tinha morrido, e com ele o grande amor que lhe dedicara. Ressurgindo-lhe agora diante dos olhos, devia ela desenterrar o falecido amor? Lourenço merecia-lhe este milagre? Lourenço, que nunca lhe dera provas de sincera estima, devia voltar a ocupar nas aras do seu coração o lugar de honra, e receber o culto exclusivo que ele próprio desprezara? Depois de pensar em tudo isto, e de meditar cada uma das graves questões que no espírito se lhe apresentavam, a menina, tomando uma resolução heróica, disse consigo: