Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/310

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Cipriano também mudara muito com o casamento. De concentrado e bisonho que era, tornara-se expansivo e sociável. À sombra do padre Antonio formara-se aquela modesta família, por ele dotada e favorecida.

O padre mandara a Lourenço uma carta:

— Que diz essa carta, Lourenço? perguntou Francisco, vendo o rapaz passar as vistas por cima das regras tremidas.

Lourenço leu em voz alta, para todos ouvirem:

Lourenço, Deus te abençoe.

Depois de casados e arranjados aqui juntos de mim, Cipriano e Bernardina resolveram mudar-se para Goiana, onde ela diz querer morrer. Lá nasceu, lá lhe correram os dias da primeira mocidade, lá tem as cinzas de seu pai, lá quer acabar, ao lado da mãe e da irmã. Para que tudo se arranjasse do melhor modo, fiquei com a parte da terra, que tinha dado de dote à menina, e dei-lhe o equivalente em dinheiro, com a condição de comprarem aí outra terra onde vivam, sem serem pesados à ninguém.

Estando eu já no fim a vida, e vendo-me só neste ermo, venho propor-te a tua mudança para aqui.

Em casa deste padre velho e achacado acharás, ao menos, bons conselhos que de muito te devem servir na vida.

Cipriano porá nas tuas mãos novo papel de doações no sítio do Cajueiro, onde poderão ficar morando Francisco e Marcelina.

Está com os olhos no caminho o

Padre Antonio.