Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/64

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não se verificando a vossa suspeita, Falcão d'Eça, que havíamos formado dele conceito tão incompatível com homens de bem? - inquiriu João da Cunha. Considero imprudente o passo que aconselhais, e não estou resoluto a dá-lo, para não me arriscar a cair no justo desprezo de um homem de nossa igualha. Demais, temos armas e munições. O ponto em que nos achamos pode reputar-se inexpugnável. Desta banda está o rio de nado, das outras grossos paus que se amparam uns aos outros em muitas ordens à roda de nós. Por que havemos de abandonar tão seguro abrigo? Por uma simples suspeita? Por isso somente não o deixarei.

Fixando a vista em João da Cunha:

— Sois livre, sargento-mor - disse Falcão; podeis ficar, eu porém, não ficarei. Oxalá não se verifiquem as minhas previsões; mas o coração leal anuncia-me que, se ainda hoje pernoitarmos neste recesso, a nossa liberdade e a vida correrão perigo. Podeis ficar, e convosco os que quiserem. Deixo-vos grande parte das munições de guerra. Até a primeira vista,

Falcão deu o andar. Alguns dos nobres seguiram-no imediatamente, outros pouco depois. Ele era a alma da resistência; a sua ausência enfraquecia os mais fortes. Com João da Cunha ficaram perto de vinte que tinham o mesmo pensar que ele. Este procedimento cravava as raízes na nobreza dos seus corações.

Mas, bem depressa tiveram a prova de quanto a sua grandeza moral se enganara. Antes do amanhecer,