Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/84

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animadversões vilãs. A casa grande mereceu as honras da primeira vítima: apedrejaram-na, tomados de brutal sanha. Os insultos praticados foram tanto mais agravantes quanto aumentaram a dor de uma senhora ilustre, que, no resignado martírio, buscava remédio contra a saudade. D. Damiana teve, por fim, de suster as lágrimas para cuidar da sua defesa. Afigurou-se-lhe não sem razão, que o engenho passaria pelo mesmo transe de que fora vítima um ano antes, como o sobrado do pátio do Carmo. Poucos eram os escravos restantes, e estes mesmos em sua maioria, velhos. Marcelina estava ao seu lado. Por conselho dela, trancaram-se todos a fim de ver se quebravam a fúria da canalha, por esta demonstração de fraqueza. Os exaltados que capitaneavam a partida desordeira tiveram um momento de senso comum, e dando-se por satisfeitos com o apedrejamento da casa, a gritaria da plebe, as injúrias atiradas a Escopeteira, voltaram à vila, onde repetiram o que nos dias precedentes haviam feito - o insulto às famílias, a violação do lar doméstico, destruindo o que não tentava a sua cobiça e levando aquilo em que ela se comprazia.

Dias depois da feroz romaria ao engenho, novo ensejo ofereceu-se ao espírito de perturbação para prolongar o seu estúpido entusiasmo - a notícia da prisão de Cosme Cavalcanti, André Cavalcanti e Luís Vidal. Parecia que a vila vinha abaixo, tamanha foi a vertigem das turbas sem freio.