Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/94

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intimam-lhe que entreguem os animais por ordem de Tunda-Cumbe, para que o bando pudesse realizar certa diligência de que estavam incumbidos. Naqueles tempos o terror dominava todos os que não pertenciam à classe elevada do partido do governador. O povo não tinha direitos. Qualquer bandido julgava-se autorizado para apoderar-se da propriedade do pobre, e fazer dele o seu moço de recados. Inúmeros pais de família, pertencentes à classe desfavorecida, perderam muitos dias de serviço por se ocuparem na condução de ofício ou outro qualquer objeto a pontos longínquos, por ordem de agentes subalternos. Por isso a intimação foi ouvida pelos almocreves como uma sentença de que não havia onde apelar.

Não estavam os bandidos acostumados a declarar as suas vontades sem as verem imediatamente cumpridas. O chefe, que vinha a cavalo, atirou-o com força que pôde sobre o matuto que mais próximo estava, dizendo arrogantemente:

— Ainda estão montados? Não ouviram o que lhes disse?

Seus olhos tinham a expressão da insolência brutal que caracteriza o poder nos agentes subalternos.

— Montados estão e estarão - advertiu a este tempo um grito que viera ecoando por sobre as cabeças dos almocreves parados na frente.

Súbito, por entre eles, rompe o que soltara aquelas palavras. Era Lourenço.