Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/95

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Logo que se achou diante do chefe, o rapaz prosseguiu assim:

— Então vosmecê entende que quem comprou um cavalinho com o suor do seu rosto, e dele precisa para seu meio de vida, há de entregá-lo a quem quer andar montado à custa dos outros?

— Que desaforo! gritou o chefe em brasas. Atreves-te a fazer-me observações, confiado?

— Este pé-rapado precisa de uma roda de pau - disse um dos da tropa, aproximando-se de Lourenço.

Este já tinha o facão desembainhado na mão.

— Desaforo é o seu - respondeu ele ao chefe. Nenhum de nós está resolvido a entregar o seu animal. Ainda quando todos entregassem o seu, eu cá não entregarei o meu castanho. Se os senhores andam em diligência, sigam o seu caminho devagar, para não serem pressentidos; agora se andam fazendo coisa que não devem, estão pior um pouco.

Soava ainda o veemente protesto, quando um dos bandoleiros fez menção de pegar no cabresto do castanho; mas antes que mão tocasse a corda já o braço se retraía à dor de uma forte pancada que sobre ele vibrara Lourenço, o qual, voltando-se aos almocreves, lhes falou com gesto imperioso.

— Para diante, para diante, camaradas!

E deu o exemplo, esporeando o castanho que tão depressa sentiu a espora, como rompeu caminho, aos pinotes