Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/97

Wikisource, a biblioteca livre

de engenho, por então ainda em mais estreitas condições do que eles mesmos, levaram algum tempo, não a mostrar-se arrependidos do seu procedimento, mas lastimando-se por ter a sorte criado para eles tão perigosa alternativa. Lourenço porém tratou de tranqüilizá-los, o que lhe não custou muito, porque a sua energia impusera os seus sentimentos aos outros, que, se já o estimavam antes, agora não só começaram a respeitá-lo, mas até a chamá-lo digno de sua confiança.

— Não tenham medo destes assassinos, destes ladrões do alheio, que só têm valentia par as mulheres que vestem saia, para os poleiros de galinhas, as estrebarias de bestas velhas mal guardadas e os chiqueiros dos porcos.

— Eles são capazes de esperar-nos na vila e prender-nos.

— Pois então, em vez de tomarem vocês o rancho, façam a sua pousada no mato. Mas afora me lembra uma coisa. O rancho é na entrada da vila, e eu moro muito para cá do Cajueiro, como vocês sabem, e a minha casa, que por ora é uma palhoça, está sem gente, porque a minha mãe foi fazer companhia à senhora do engenho Bujari. Podem vocês arranchar-se na minha palhoça, que fica da estrada muito para dentro, e de noite não se vê; amanhã de manhãzinha seguirão então para Goiana. De dia e dentro da vila já eles, se aí ainda se acharem, não farão o que lhes vier nos narizes; porque, ainda que os mascates estão de cima,