Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/99

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a chamar-me ladrão. Hei de lhe perguntar quem é mais ladrão - se o que está solto e livre, tratando do seu negócio, ou se o que vem amarrado, e em pouco tempo há de subir à forca?

É impossível dar uma idéia aproximada da angústia de Lourenço, quando soube a cruel notícia, e da aflição, que o possuía por não poder dar incontinenti o castigo a quem o merecia, quando nos adjuntos pelas ruas, e nas portas das tabernas e das boticas, ouvia semelhantes projetos de vilãs vinganças contra os nobres em quem se acostumara a não pôr as vistas senão com respeito.

— Que desgraça, meu Deus! Parece que não ficará um fidalgo que não seja preso. Mal pensa seu Cosme o que está para lhe acontecer.

Cosme Bezerra, entretanto, confiando na promessa do Coronel Braga, pôs o espírito ao largo, e da grandeza do infortúnio tratou de tirar forças e resignação maiores que o mesmo infortúnio para o vencer com dignidade.

— Estou preso como um cativo, mas no meu crime há um protesto em favor da liberdade dos pernambucanos. Demais, desobedecer ao despotismo, à violência, em lugar de crime, é direito. Poderão matar-me, porque são assassinos; poderei subir à forca, e outro fim não espero, se antes disso não me assassinarem por estes caminhos, sob qualquer pretexto para se verem logo livres de mim. Mas, meu nome passará, com meu ânimo,