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Foi uma noite horrível.

O baile terminara às duas horas. Lúcia assistira até o fim, o que ainda mais me irritou, porque eu desejava triunfar com a sua saída precipitada, depois do desprezo que lhe mostrara. «Se ela se retirasse, pensava eu, correria à sua casa para pedir-lhe perdão». Mas não acredite que o fizesse: procederia com o mesmo orgulho estúpido que me dominou no momento em que ela despediu o Couto e renunciou ao baile para ficar comigo.

Na retirada o velho esperava-a na porta, e partiram ambos de carro.

— Está acabado! disse comigo. Não pensemos mais nisto.

Porem não era coisa fácil apagar no meu espírito a profunda impressão que aí deixara gravada a imagem de Lúcia. Tomei o braço do Rochinha, que encontrei ao sair, e fomos cear no primeiro hotel que encontramos aberto. Em qualquer outra ocasião esse moço me enjoaria com a sua afetada decrepitude moral; nesse momento era um homem que podia falar-me de Lúcia e dizer mal dela.

Com efeito o Rochinha contou-me diversas anedotas escandalosas da vida de Lúcia; e concluiu dizendo:

— Não acredito ainda que esse Diógenes do Couto seja seu amante.

— Ouvi-a confessar esta noite mesmo. Saíram juntos do baile.

— Pois admira-me; porque há muito tempo que ele a persegue debalde. Lúcia tinha-lhe tal birra,