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nas minhas doces recordações; porque a realidade fugia-me, quando a buscava com desespero.

Esqueci-me de lhe contar um incidente que se passou na mesma manhã da nossa reconciliação. Quis sair um momento para ir pagar as dívidas que Lúcia fizera na véspera.

— Já estão pagas! me respondeu sorrindo e mostrando os recibos.

— Por quem? perguntei com severidade.

— Por mim! Quem, senão eu, tinha o direito de pagá-las?

— Mas ontem o Couto te acompanhava...

— O senhor queria que eu tivesse amantes! disse Lúcia entristecendo. Mandei chamar esse velho. Não sabe por quê?... Antes queria dar-me a um escravo, do que vender-me a ele por todo o ouro deste mundo!

— E a tua pulseira? Ficarás sem ela?

— Psiu! fez Lúcia levando o dedo à boca e baixando a voz. Não fale mais nisso! Deixa-a ir; queimava! Ficou-me a sua lembrança!

Tirou então o adereço de azeviche que eu lhe tinha dado.

— Apareceu enfim!

— Não se lembra do motivo?... Agora já não preciso escondê-lo! Vale os brilhantes que perdi.

Desde então realmente a sua predileção por aquelas jóias tornou-se uma espécie de fetichismo para esse coração, que por muito tempo ermo e vazio, sentia ardente sede de afeição.