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Beijou-me as mãos:

— Ela vai ter tanta necessidade de um pai!

Os acessos de febre repetiram-se durante três dias, e sempre mais graves. Uma tarde em que o médico apresentou a Lúcia um remédio:

— Para que é isso? perguntou ela com brandura.

— Para aliviá-la do seu incomodo. Logo que lançar o aborto, ficará inteiramente boa.

— Lançar!... Expelir meu filho de mim?

E o copo que Lúcia sustentava na mão trêmula, impelido com violência, voou pelo aposento e espedaçou-se de encontro à parede.

— Iremos juntos'... murmurou descaindo inerte sobre as almofadas do leito. Sua mãe lhe servirá de túmulo.

De joelhos à cabeceira eu suplicava-lhe que bebesse o remédio que a devia salvar.

— Queres acompanhar teu filho, Maria, e abandonar-me só neste mundo. Vive por mim!

— Se eu pudesse viver, haveria forças que me separassem de ti? Haveria sacrifício que eu não fizesse para comprar mais alguns dias da minha felicidade? Mas Deus não quis. Sinto que a vida me foge!

A instâncias minhas bebeu finalmente o remédio, que nenhum efeito produziu. A febre lavrava com intensidade; eu já não tinha esperanças.

— O remédio de que eu preciso é o da religião. Quero confessar-me, Paulo.

Lúcia tomou os sacramentos com uma resignação angélica; e abraçando a irmã, disse-lhe:

— Perdes uma irmã, Ana; fica-te um pai. Ama-o por ele, por ti e por mim

O dia se passou na cruel agonia que só compreendem aqueles