Esqueci o meu pince-nez, disse o Rochinha.
— Estás pronta, Lúcia?
Ela ergueu-se, circulando a mesa com o olhar ardente e fascinado.
— Tu não farás isto, Lúcia! disse-lhe eu à meia voz.
Dobrando como uma palma flexível o seu talhe esbelto, atirou-me ao ouvido uma palavra, que vazou no meu cérebro e correu-me pela medula dos ossos, como gata de metal em fusão.
— É preciso pagar a conta da ceia!
Travei-lhe da mão:
— Eu te suplico.
O seu corpo oscilou; caiu inerte sobre a cadeira.
— Que é isso? exclamou Sá. Tens vergonha de Paulo? É a única pessoa demais que está hoje aqui.
— Ah! não é a primeira vez? perguntei empalidecendo.
— Será a primeira vez que copiará estes quadros, pois não há oito dias que os comprei; mas Lúcia não precisa de modelos, e já nos mostrou, não uma, porém muitas noites, que tem, com a beleza dos anjos, o gênio da estatuária. Não é verdade, meus senhores?
— Bem vês, Sá, que a honra não é para todos. Sou indigno dela! disse eu.
— O que me está parecendo é que Lúcia quer apaixonar-te.
Soltei uma gargalhada.
— Perde o seu tempo! A mim?
Lúcia ergueu a cabeça com orgulho satânico, e levantando-se de um salto, agarrou uma garrafa de champanha, quase cheia. Quando a pousou sobre a mesa, todo o vinho tinha-lhe passado pelos lábios,