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tudo o que se diz a seu respeito? Vamos; a tua opinião franca!

— Julgo que é o maior serviço que possa prestar a amizade.

— Bem. Ouve então o que dizem de ti.

— Para quê? Não dou peso à maledicência, Sá.

— Pode ser que tenhas razão; mas ouve primeiro; depois riremos dessas parvoíces. Há aqui no Rio de Janeiro certa classe de gente que se ocupa mais com a vida dos outros, do que com a sua própria; e em parte dou-lhes razão; de que viveriam eles sem isso, quando têm a alma oca e vazia? Essa gente já sabe quem tu és, que fortuna tens, quanto ganhas, onde moras e como vives.

— É fácil saber; não tenho que ocultar, mercê de Deus.

— Estou convencido que poderias habitar a casa de vidro de Catão; mas infelizmente não a habitas; e portanto o mundo não vê justamente o que a tua modéstia esconde por detrás das paredes, isto é, o lado nobre e honroso da tua vida. O resto está patente.

— Mas ainda uma vez, Sá, o que pretendes com isso? Que me importa o que pensam a meu respeito? Não tenho reputação a perder.

— Mas tens reputação a ganhar. És amante de Lúcia, há um mês; e eu te conheço, sei que estás te sacrificando. Entretanto, como Lúcia não aparece mais no teatro, não roda no carro mais rico, e já não esmaga as outras com o seu luxo; como a Rua do Ouvidor não lhe envia diariamente o vestido de melhor gosto, a jóia mais custosa, e as últimas novidades da moda; sabes o que se pensa e o que se diz? Que estás sacrificando Lúcia. . . que estás vivendo à sua custa!