Página:Machado de Assis - Critica.djvu/115

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acabada o que noutro ponto parece ser apenas um prenúncio; questão de indicativo e imperativo; e esta simples diferença, que nada entende com o ideal poético, divide o autor e o crítico. A justiça anunciada pelo Sr. V. Magalhães, achá-la-emos em outros, por exemplo, no Sr. Teófilo Dias (Cantos Tropicais, p. 139); é idéia comum aos nossos e aos modernos poetas portugueses. Um deles, chefe de escola, o Sr. Guerra Junqueiro, não acha melhor definição para sua musa: Reta como a Justiça, diz ele em uns belos versos da Musa em Férias. Outro, o Sr. Guilherme de Azevedo, um de seus melhores companheiros, escreveu numa carta com que abre o livro da Alma Nova: "Sorrindo ou combatendo fala (o livro) da humanidade e da Justiça". Outro, o Sr. Teixeira Bastos, nos Rumores Vulcânicos, diz que os seus versos cantam um deus sagrado — a Humanidade — e o "coruscante vulto da Justiça". Mas essa aspiração ao reinado da Justiça (que é afinal uma simples transcrição de Proudhon) não pode ser uma doutrina literária; é uma aspiração e nada mais. Pode ser também uma cruzada, e não me desagradam as cruzadas em verso. Garrett, ingênuo às vezes, como um grande poeta que era, atribui aos versos uma porção de grandes coisas sociais que eles não fizeram, os pobres