Página:Machado de Assis - Critica.djvu/133

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Dias os foi buscar porque lhe falavam mais diretamente a ele? Melhor do que isso, porém, vejo eu na escolha de uma página das Flores do Mal. O albatroz, essa águia dos mares, que, apanhada no convés do navio perde o uso das asas e fica sujeita ao escárnio da maruja, esse albatroz que Baudelaire compara ao poeta, exposto à mofa da turba tolhido pelas próprias asas, estou que seduziu o Sr. Teófilo Dias menos por espírito de classe do que por um sentimento pessoal; esse albatroz é ele próprio. Não vejo o poeta, no que aí fica, um elogio não é elogio nem censura; é simples observação da crítica. Quereis a prova do reparo? Lede os versos que têm por título Anátema, curiosa história de um amor de poeta, amor casto e puro, cuja ilusão se desfaz logo que o objeto amado lhe fala cruamente a linguagem dos sentidos. Essa composição, que termina por uma longínqua reminiscência do Padre Vieira — "Perdôo-vos... e vingo-me!", essa composição é o corolário do Albatroz e explica o tom geral do livro. O poeta indigna-se, não tanto em nome da moral, como no de seu próprios sentimentos; é o egoísmo da ilusão que soluça, brada, e por fim condena, e por fim sobrevive nestes quatro versos: