Página:Machado de Assis - Critica.djvu/134

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... Ao pé de vós, quando em delícias
Às minhas ilusões sem dó quebráveis,
Revestia-se um anjo com os andrajos,
Dos sonhos que rompíeis.

Não é preciso mais para conhecer o poeta, com a melindrosa sensibilidade, com a singeleza da puerícia, com a ilusão que forceja por arrancar o vôo do chão; essa é a nota principal do livro, é a do "Getseman" e a do "Pressentimento". Pouco difere a da "Poeira e Lama", na qual parece haver um laivo de pessimismo; e se, como na "Andalusa", o poeta sonha com "bacanais" e "pulsações lascivas", crede que não é sonho, mas pesadelo e pesadelo curto; ele é outra coisa. Já acima o disse: há nos Cantos Tropicais algumas páginas em que o poeta parece querer despir as vestes primeiras; poucas são, e nessas a nota é mais enérgica, intencionalmente enérgica; o verso sai-lhe cheio e viril, como na "Poesia Moderna", e o pensamento tem a elevação do assunto. Aí nos aparece a justiça de que falei na Primeira parte deste estudo; aí vemos a musa moderna, irmã da liberdade, tomando nas mãos a lança da justiça e o escudo da razão. Certo, há alguma coisa singular neste evocar a musa da razão pela boca de um poeta de sentimento; não menos parecem destoar do autor do "Solilóquio" as preocupações políticas da "Poesia Moderna".