Página:Machado de Assis - Critica.djvu/161

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dessas composições são irrepreensíveis; mas há ali vida, fluência, animação; e quando ouvimos o poeta falar aos heróis, nestes belos versos:


Vós que dobrais do tempo o promontório,
E, barra dentro, a eternidade entrais.

mal podemos lembrar que é o mesmo poeta que, algumas páginas antes, inclinara a fronte pensativa sobre um berço de criança. Quem possui a faculdade de cantar tão opostas coisas, tem diante de si um campo largo e fértil. Certas demasias há de perdê-las com o tempo; a melhor lição crítica é a experiência própria. Confesso, entretanto, um receio. A ciência é má vizinha; e a ciência tem no Sr. Francisco de Castro um cultor assíduo e valente. Lembre-se todavia o poeta que os antigos arranjaram perfeitamente estas coisas; fizeram de Apolo o deus da poesia e da medicina. Goethe escreveu o Fausto e descobriu um osso no homem — o que tudo persuade que a ciência e a poesia não são inconciliáveis. O autor das Estrelas Errantes pode mostrar que são amigas.

O que eu dizia em 1878 a este poeta, dizia-o em 1872 ao autor das Névoas Matutinas. Não dissimulei que havia na sua primavera mais folhas pálidas que verdes; foram as minhas