Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/140

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MARTINS - Ah! basta; história de cavalos... que mania!

SILVEIRA - É um vÍcio, confesso. Para mim não há outros: nem fumo, nem mulheres, nem jogo, nem vinho; tudo isso que muitas vezes se encontra em um só homem, reuni-o eu na paixão dos cavalos; mas é que não há nada acima de um cavalo soberbo, elegante, fogoso. Olha, eu compreendo Calígula.

MARTINS - Mas, enfim...

SILVEIRA - A história! É simples. Conheces o meu Intrépido! É um lindo alazão! Pois ia eu a pouco, comodamente montado, costeando a praia de Botafogo; ia distraído, não sei em que pensava. De repente, um tílburi, que vinha em frente, esbarra e tomba. O Intrépido espanta-se; ergue as patas dianteiras, diante da massa que ficara defronte, donde saíam gritos e lamentos. Procurei contê-lo, mas qual! Quando dei por mim rolava muito prosaicamente na poeira. Levantei-me a custo; todo o corpo me doía; mas enfim pude tomar um carro e ir mudar de roupa. Quanto ao alazão, ninguém deu por ele; deitou a correr até agora.

MARTINS - Que maluco!

SILVEIRA - Ah! mas as comoções... E as folhas amanhã contando