algum grande cargo de camareira-mor. Tudo isso havereis, enquanto que o coitado de Camões irá morrer em África ou Ásia...
D. CATARINA - Teimoso sois! Sempre essas idéias de África...
CAMÕES - Ou Ásia. Que tem isso? Digo-vos que, às vezes, a dormir, imagino lá estar, longe dos galanteios da corte, armado em guerra, diante do gentio. Imaginai agora...
D. CATARINA - Não imagino nada; vós sois meu, tão só meu, tão-somente meu. Que me importa o gentio, ou o Turco, ou que quer que é, que não sei, nem quero? Tinha que ver, se me deixáveis, para ir às vossas Áfricas... E os meus sonetos? Quem mos havia de fazer, meu rico poeta?
CAMÕES - Não faltará quem vo-los faça, e da maior perfeição.
D. CATARINA - Pode ser; mas eu quero-os ruins, como os vossos... como aquele da Circe, o meu retrato, dissestes vós.
CAMÕES, recitando.
Um mover de olhos, brando e piedoso.
Sem ver de que; um riso brando e honesto,
Quase forçado um doce e humilde gesto
De qualquer alegria duvidoso...