Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/260

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CAMINHA - Ouvi de longe a vossa fala, e reconheci-a. Vi logo que era o nosso poeta, de quem tratava há pouco com alguns fidalgos. Sois o bem-amado, entre os últimos de Coimbra. - Com que, discreteáveis... Com alguma dama?

CAMÕES - Com uma dama.

CAMINHA - Certamente formosa, que não as há de outra casta nestes reais paços. Sua Alteza cuido que continuará, e ainda em bem, algumas boas tradições de El-rei seu pai. Damas formosas, e, quanto possível, letradas. São estes, dizem, os bons costumes italianos. É vós, senhor Camões, por que não ides à Itália?

CAMÕES - Irei à Itália, mas passando por África.

CAMINHA - Ah! Ah! para lá deixar primeiro um braço, uma perna, ou um olho... Não, poupai os olhos, que são o feitiço dessas damas da corte; poupai também a mão, com que nos haveis de escrever tão lindos versos; isto vos digo que poupai...

CAMÕES - Uma palavra, senhor Pero de Andrade. Uma só palavra, mas sincera.

CAMINHA - Dizei.