Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/275

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D. FRANCISCA - Vou, vou. Pensava comigo uma coisa. (D. Manuel vai a ela.) Pensava que é preciso querer muito aqueles dois para nos esquecermos assim de nós.

D. MANUEL - É verdade. E não há mais nobre motivo da nossa mútua indiferença. Indiferença, não; não o é, nem o podia ser nunca. No meio de toda essa angústia que nos cerca, poderia eu esquecer a minha doce Aragão? Poderieis vós esquecer-me. Ide agora, nós que somos felizes, temos o dever de consolar os desgraçados. (D. Francisca sai pela esquerda.)

CENA XIV

D. MANUEL DE PORTUGAL, logo D. ANTÔNIO DE LIMA

D. MANUEL - Se perco o confidente dos meus amores, da minha mocidade, o meu companheiro de longas horas... Não é impossível. - El-rei concederá o que lhe pedir D. Antônio. A culpa, - força é confessá-lo, - a culpa é dele, do meu Camões, do meu impetuoso poeta; um coração sem freio... (Abre-se o reposteiro, aparece D. Antônio.) D. Antônio!