Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/280

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foram. (Indo ao fundo e olhando para dentro.) Ela aí vai, a minha estrela, aí vai a resvalar no abismo, de onde não sei se a levantarei mais... Nem eu... (Voltando-se para D. Manuel.) Nem vós, meu amigo, nem vós que me quereis tanto, ninguém.

D. MANUEL - Desanimais depressa, Luís. Por que ninguém? CAMÕES - Não saberia dizer-vos; mas sinto-o aqui no coração. Essa clara luz, essa doce madrugada da minha vida, apagou-se agora mesmo, e de uma vez.

D. MANUEL - Confiai em mim, nos meus amigos, nos vossos amigos. Irei ter com eles; induzi-los-ei a....

CAMÕES - A quê? A mortificarem um camareiro-mor, a fim de servir um triste escudeiro que já estará a caminho de África?

D. MANUEL - Ides à África? CAMÕES - Pode ser; sinto umas tonteiras africanas. Pois que me fecham a porta dos amores, abrirei eu mesmo as da guerra. Irei lá pelejar, ou não sei se morrer... África, disse eu? Pode ser que Ásia também, ou Ásia só; o que me der na imaginação.

D. MANUEL - Saiamos.