Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/290

Wikisource, a biblioteca livre

vez que a vejo, disse ele; eu sou do Norte. É uma grande cidade, José Bonifácio é um grande homem, a rua do Ouvidor um poema, o chafariz da Carioca um belo chafariz, o Corcovado, o gigante de pedra, Gonçalves Dias, os Timbiras, o Maranhão..." Embrulhava tudo a tal ponto que me fez rir. Ele é doido?

MAGALHÃES - Não.

D. LEOCÁDIA - A principio, cuidei que era. Mas o melhor foi quando se serviu o peru. Perguntei-lhe que tal achava o peru. Ficou pálido, deixou cair o garfo, fechou os olhos e não me respondeu. Eu ia chamar a atenção de vocês, quando ele abriu os olhos e disse com voz surda: "D. Leocádia, eu não conheço o Peru.." Eu, espantada, perguntei: "Pois não está comendo?..." "Não falo desta pobre ave; falo-lhe da república".

MAGALHÃES - Pois conhece a república.

D. LEOCÁDIA - Então mentiu.

MAGALHÃES - Não, porque nunca lá foi.

D. LEOCÁDIA (a D. Adelaide) - Mau! seu marido parece que também está virando o juízo. (A Magalhães) Conhece então o Peru, como vocês estão conhecendo a Grécia... pelos livros.

MAGALHÃES - Também não.