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Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/38

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m os diabos!

DOUTOR - Descobri que o amor é uma pescaria. O pescador senta-se sobre um penedo, à beira do mar. Tem ao lado uma cesta com iscas; vai pondo uma por uma no anzol e atira às águas a pérfida linha. Assim gasta horas e dias até que o descuidado filho das águas agarra no anzol, ou não agarra e...

VALENTIM - És um tolo.

DOUTOR - Não contesto; pelo interesse

que tomo por ti. Realmente doe-me ver-te tantos dias exposto ao sol, sobre o penedo, com o caniço na mão, a gastar as tuas iscas e a tua saúde, quero dizer a tua honra.

VALENTIM - A minha honra?

DOUTOR - A tua honra, sim. Pois para homem de senso e um tanto sério o ridículo não é uma desonra? Tu estás ridículo. Não há dia em que não venhas gastar três, quatro, cinco horas a cercar esta viúva de galanteios e atenções, acreditando talvez ter adiantado muito, mas estando ainda hoje como quando começastes. Olha, há Penélopes da virtude e Penélopes do galanteio. Umas fazem e desmancham teias por terem muito juízo; outras as fazem e desmancham por não terem nenhum.

VALENTIM - Não deixas de ter uma tal ou qual razão.