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MARIO DE ANDRADE

No mocambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porêm respeitava os velhos e frequentava com aplicação a murúa a poracê o torê a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribu.

Quando era pra dormir trepava no macurú pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a rede da mãi estava por debaixo do berço o heroi mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem. Então adormecia falando palavras-feias imoralidades estrambolicas e dava patadas no ar.

Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto era sempre as peraltagens do heroi. As mulheres se riam, muito simpatisadas falando que “espinho que pinica, de pequeno já traz ponta” e numa pagelança Rei Nagô fez um discurso e avisou que Macunaíma era muito inteligente.

Nem bem teve seis anos deram agua num chocalho pra êle e Macunaíma principiou falando como todos. E pediu prá mãi que largasse da mandioca ralando na cevadeira e levasse êle passear no mato. A mãi não quis porquê não podia largar da mandioca não. Macunaíma choramingou dia inteiro. De-noite continuou chorando. No outro dia esperou com o ôlho esquerdo dormindo que a mãi principiasse o trabalho. Então pediu pra ela que largasse de tecer o paneiro de guarumá-membeca e levasse êle no mato passear. A mãi não quis por-