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Da Lua, Hsstia de amor e de tristeza...)
Até á sombra fria que dos vales
Vae alcançando o viso dos outeiros,
D'onde o sol diz adeus, n'um gesto triste
De lagrimas subindo em nevoeiros.
Amo-te, ó Serra, em tudo o que tu és!
Amo-te, desde a fonte piedosa
Que de teus flancos mana, d'uma fresca
E casta transparencia religiosa;
Desde os negros abysmos que te affligem
Ao alivio das grandes altitudes,
D'onde tocas os soes que te dirigem
A palavra de amor e claridade!
Amo-te, desde a rocha que em ti sofre
Ao tôjo bravo e á urze tão mesquinha
De que sempre te vestes, porque, emfim,
Tu és grande e, portanto, pobresinha!
Amo-te, desde a vasta solidão
E do fundo silencio que te envolvem
Desde o instante da tua Creação,
Do teu sagrado Genesis de fogo,
Até á pobre flôr quasi aromatica,
Humilde e rasteirinha, que na trança
Põe a pastôra mystica e selvatica,
De geito agreste e doce olhar bravio!


«Eu amo-te por tudo o que não sei
Dizer quando te vejo! Pelo verso
Imortal e infinito que eu criei,
Mas que é feito de treva e de silencio!»


D'esta fórma, Marános, em voz alta,