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Página:Maria Feio - Doida Não (1920).pdf/56

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patrões, porque tambem procurei ser para todos o melhor que eu pude. Mas, uma alma e uma inteligência como a desta senhora, nunca o destino me deparára.

« A snr. D. Maria Adelaide, em breve percebeu que eu era grato aos seus desvelos e que tinha um feitio de me sensibilisar com a bondade que me era dispensada. Mas eu nunca olhei para ela senão com um respeito e uma ternura que um filho póde ter para uma mãe. E ela, estou certo que me olhava como um filho.

« Mas não há dúvida que esta afeição começou a apoderar-se de mim com uma força que me inquietava.

« Quando a via cheia de cuidados pelo bem-estar de toda a gente da casa, e especialmente dos empregados, parecia-me que andava uma santa em volta de nós. Esta impressão causava-me um grande contentamento. E eu percebia intimamente que tambem lhe fazia bem sentir que tinha por ela uma grande adoração. Depois causava-me muita pena ver que esta senhora não era tratada como merecia. »

Mas o Manuel acudia logo significativamente:

— Que eu, juro, não digo isto por vingança ou rancor para com o snr. Dr. Alfredo da Cunha. Ele julga-se ofendido e procede conforme o seu entendimento. Mas a verdade, que ninguem pode contestat, é que era rispido com a senhora e fazia-a sofrer muito ser ela o merecer.

E concluiu com certa ironia pungente:

— Mas tanta gente que sabe e que viu esse procedimento, nega-se hoje a confirmar tal verdade, porque acima de tudo só ha interesses, conveniências e ambições.

— De forma que então, existe na sua alma um culto reverente por esta senhora?

— Hoje mais do que nunca, minha senhora, porque á adoração que sentia pela sua bondade, á gratidão por me ter salvado a vida e porque se dispôs a partilhar a minha