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N'aquella idade já o Camarão e o Lagarto, periodicos literarios, artisticos, politicos e burlescos publicados então, chamavam a attenção dos leitores, o primeiro para o meu artigo intitulado O homem deve ser sceptico e o outro sobre a minha poesia — Ella (á qual meu tio alludio quando fallou na santa mulher do nosso honrado visinho o Sr. Onofre).

O meu primeiro escripto que andou em letra redonda foi o artigo. Quem conhece o gigante pelo dedo, conhecerá o artigo inteiro por este começar: — «Eil-o cabisbaixo e taciturno fitando o horisonte da existencia... Esqueleto de crenças resequidas, elle descrê da luz e das trévas, de si e de todos, etc.»

O Camarão, sem inquirir como póde a gente cabisbaixa fitar o horisonte da existencia, e muito menos a que animal pertencera o esqueleto de crenças resequidas, rematava o encomio ao artigo com estas palavras de arromba:

«É de crêr que o joven e talentoso escriptor com o andar do tempo modifique as doentias idéas, prematuramente bebidas nas fontes de Benedicto Spinosa, J. J. Rousseau,