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— E é pouco?

Era de facto assaz. Puz-me a pensar.

— No que pensas? tornou ella.

— Na cousa mais simples deste mundo.

— Qual?

— N'um chapéo...

— Por fallares em chapéo, de quem será um, que anda pelo sotão?

— Poderá ser meu... anda vêr...

A rapariga não se deixou rogar. Lesta foi, lesta voltou.

— É justamente meu, clamei, antes de pôr o chapéo na cabeça.

O chapéo era tanto meu como de quem me ouve. Ficava-me na cabeça por muito obsequio.

— Acautela-te, acudio Aurora, olha que elle quer subir...

— Aurora, lhe disse com seriedade, toma um beijo... é tudo quanto posso dar-te, como lembrança de minha gratidão...

Ao proferir a palavra gratidão—cresceu-me o nó da garganta.

— Não me deves nada, meu querido, respondeu a meia voz. Eu sinto muito mas... tu sabes...