Página:Memorias de um pobre diabo.pdf/51

Wikisource, a biblioteca livre
41

O reverendo entrou pelo meu habitaculo clamando:

—Leva-me preso comtigo
N'um fio dos teus cabellos!

—Glose este motte, meu poeta.

Nós já nos não respeitavamos.

—Ouça isto, foi proseguindo:

Não se sabe apartar quem ama e pena,
E quem nisto é mais fraco, este é mais forte;
A dôr da mesma morte é mais pequena,
Que quem morre melhora muito a sorte;
Quem morre acaba o mal, quê toda a pena
Dura co'a vida sem passar da morte:
Maior pena padece o que está ausente,
Pois morre de saudade e morto sente.

—O que acha?

—Que li algures...

—Onde homem? isto é meu e muito meu. Pensa vossê que só faz versos? Por mais prosa que a gente seja, batendo-lhe devéras o coração, torna-se poeta. Adivinhe o que me succedeu?

—Suspenderam-lhe as ordens...

—Assim fosse; cousa mais seria; partio para a Bahia a Mariquinhas...