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Puz-me a olhar através dos vidros os livros expostos á venda na casa Garnier.

D'ahi a pouco, chega e pára a outra vidraça uma mulher ... Só digo eu, não contando o cãosinho felpudo, que a-seguia.

Era um animalsinho com ar inoffensivo e prasenteiro e cara de quem não aceitaria, se lhe mandassem, um cartel. Começa a mão do frade!

Olhou... olhou... (ella e não o cão), e entrou na livraria. Ouvi-a dizer em francez de Racine:

Les Femmes, par Alphonse Karr?

—É justamente a mulher, que eu sonhava, disse a mim mesmo; mulher que lêsse o autor de La pêche.... en eau douce... et en eau salée.... Abeirei-me á porta.

Deram-lhe o livro; folheou-o, pagou-o sem questionar o preço, deu boa-noite e sahio.

Fóra da loja, tomei-lhe a frente, comprimentei-a com acatamento, rogando-lhe aceitasse a carta.

—Quem é o senhor? e donde vem essa carta? perguntou meio desdenhosa.

—E' tudo um mysterio, respondi. Lendo a carta saberá.