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Não se me dava a queda da noite, importava-me a queda da agua.

Eu não tinha guarda-chuva.

Identificando o corpo com as paredes das casas, cheguei ao Restaurant do Mangini ensopado como uma garoupa de escabeche, pois que fallei em restaurant.

Por felicidade das tres quatro partes do genero humano, se a agua da chuva tem a propriedade de ensopar o facto, este tem a de enxugar passado o preciso tempo. Panno para mangas tinha eu aqui, se quizesse mostrar até onde chego em physica.

Assentei-me junto a uma meza, onde não dava em cheio a luz.

Nenhum dos caixeiros do estabelecimento fez conta da minha humida-individualidade.

Cheguei no momento em que um sujeito, galhardamente vestido á moderna, travava razões com um dos caixeiros. Dizia elle, calçando as luvas e olhando de travez para a nota da despeza, que fizera:

—Oh! senhor! esta conta está exacta? em que despendi essa enorme somma? nem no hotel da Europa.

—V. S. veja a lista, acodia o caixeiro.