Página:Memorias de um sargento de milicias.djvu/272

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Os granadeiros, que conheciam o Teotônio e lhe sabiam da habilidade, compreenderam logo o que tinha sucedido por aquele dito do major, e desataram por seu turno a rir. O Leonardo, por aquele apelo à disciplina, com a qual não se achava em muito bom pé de relações desde a noite do papai lelê, venceu todas as dificuldades e repugnância que manifestara no desempenho da missão de que o encarregara o major, e pôs-se a caminho para a casa de seu pai.

Chegou e bateu: assim que de dentro lhe perceberam as cores da farda e barretina houve um grito de medo, e por um movimento que parecia combinado (o major tinha razão!) foram repentinamente apagadas todas as velas da sala, e começou a reinar uma confusão tal, que parecia haver-se travado uma luta entre todos.

O Leonardo viu nisso uma primeira contrariedade, porém não deixou de achar graça no susto que causara. Resolveu então falar da parte de fora para tranqüilizar aos medrosos.

— Bom modo de ser recebido um filho em casa de seu pai! Para quarta-feira de trevas só lhe faltam as matracas...

A comadre, que ouvira e reconhecera a voz do afilhado, desatou a rir, exclamando:

— Vejam que logro! é o Leonardo; tragam as velas, gente: não há novidade, que o cabo da guarda é nosso compadre.

— Aquele brejeiro, resmoneou o Leonardo-velho, sempre há de andar a fazer das suas: vejam que susto causou a toda essa gente... Ó amigo Teotônio, desça, que não há novidade...