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Este bolide, ainda quando estiver em uma altura de 37.000 metros, experimentará a enorme resistencia de 582,000 kilogrammas.

Lembrando que a pressão atmospherica ao nivel do mar é de 10,333 kilogrammas por metro quadrado, resulta d'ahi que a resistencia desenvolvida será de 65 atmospheras ! Como, porém, na altura de 37 kilometros a pressão do ar é apenas de 1/100 de atmosphera, vê-se que a velocidade do meteorito torna a pressão do ar 5,600 vezes maior do que era antes !


Luz e calor


E' opinião bastante acreditada, que a producção de luz, que acompanha a penetração do bolide na atmosphera, é resultado do attrito do corpusculo com o ar. Ora, por experiencias concludentes, está provado que este attrito não póde, por fórma alguma, produzir aquecimento apreciavel, quanto mais o immenso calorico desenvolvido por occasião da quéda do bolide.

O phenomeno é diverso. Adiante do bolide o ar comprime-se, emquanto atrás produz-se um vacuo que o ar preenche pouco a pouco. A enorme pressão a que se acha submettido o ar, torna este incandescente, tal qual o faria um briquet à air. Com a velocidade de 30 kilom. por segundo, a temperatura produzida pela compressão do ar será de 3.400 gráos centigrados !

A enorme pressão á qual é submettido o bolide deve pulverisar instantaneamente a superficie ; e o pó mineral, assim produzido, exposto a um calor de alguns milhares de gráos deve tornar-se logo luminoso, como é o caso para o pó de cal, de magnesia, que se atira na chamma do gaz oxihydrico. Assim explica-se a cauda ou rasto luminoso que acompanha a quéda das estrellas cadentes, bolides, etc.

E' facto extremamente curioso, que a differença de temperatura produzida é independente da densidade do ar, mas sómente da differença das pressões produzidas pelo choque, a qual não depende da densidade, mas sómente da velocidade do bolide.

Assim, para um bolide, animado de uma velocidade de 30 kilom. por segundo, o accrescimo de pressão será de um para 5832 e o accrescimo da temperatura de 273º para 3341º, quer esteja o ar na pressão de 1/1000 ou de uma atmosphera. Eis o que explica por que razão as estrellas cadentes, que atravessam as regiões elevadas da nossa atmosphera tornam-se mui luminosas. Entretanto, convem notar que,