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os selvagens do Brasil
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mas dos seus vôos nocturnos. Os portuguezes chamam-lhes — peixes voadores.

Logo depois alcançámos a linha equinoxial, onde fazia grande calor, e por bom espaço de tempo passámos sem vento nenhum durante o dia. A' noite, porém, sobrevinham trovoadas passageiras, seguidas de vento e chuva. Quando navegavamos a panno isso nos obrigava a uma cautela continua, afim de não sermos surprehendidos.

Depois entrou a soprar um vento forte, breve transformado em temporal e contrario á nossa rota, vento que se persistisse nos acarretaria a fome. Elevamos, então, preces a Deus, pedindo tempo favoravel.

Certa noite, em que tivemos forte tempestade e corremos grande perigo, appareceram muitas luzes azues no navio, cousa que jamais eu vira. Onde as vagas batiam ficava a brilhar a luz azul.

Os portuguezes alegraram-se com o phenomeno, dizendo que taes luzes, a que chamam santelmo, era signal do bom tempo que Deus nos ia mandar. E assim foi. Quando raiou o dia começou a soprar um vento de feição e vimos nisso claramente a vontade de Deus.

Proseguimos em nossa rota. A 28 de janeiro (1548) avistamos terra, que soube ser o cabo de