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MULHERES E CREANÇAS

n’um sarau dramatico, comediazinhas maliciosas em beneficio dos adultos cegos.

Frequentando os theatros de segunda ordem, onde os palhaços e as cocottes de Offenbach, e dos modernissimos maestrinos da decadencia se desengonsam em scena, fazendo gestos desmanchados e sublinhando com sorrisos torpes as suas cantilenas de café-concerto, debalde a procurei pelas frisas, e pelos camarotes, applaudindo as farçadas impuras, e dando gargalhadas que attrahissem a attenção e os maliciosos commentarios da platéa.

Nas noites de verão, no Passeio Publico, quando ha musica, fogo de artificio, muito calor e muito aperto, e as meninas burguezas que ainda não podem gozar da villeggiatura elegante, passeiam com toilettes claras, na plena expansão da flirtation lisbonense, confesso que muitas vezes atravessei a multidão, pisado, empurrado, offegante, sem respeito pelas caudas de seda, de foulard, de linho transparente, que para alli vão desfructar o prazer de se encherem de poeira e de rasgões, e que debalde procurava reconhecel-a em cada vulto feminino, esbelto, gracioso, que passava pisando a areia das ruas, com o tacão alto das estreitas botinas de pellica.

Até comecei a frequentar S. Luiz, a igreja da devoção fidalga, do arrependimento perfumado de poudre