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MULHERES E CREANÇAS

Escuso de accrescentar que ella não se encontrava entre essas todas.

Um dia porém, — que bom dia aquelle! — tornei a vel-a em casa de uma amiga de minha mãe.

Não me pareceu bella, pareceu-me boa, mas de uma bondade em que a belleza não deixava de entrar, embora como elemento secundario.

Estava com as suas amigas em volta de uma grande mesa de serão. Largára um pequeno trabalho da agulha, e começara a lêr alto a pedido de todas as companheiras.

Lia um livro de Michelet, L’insecte.

Tinha a voz grave, sonora, musical, como eu sempre imaginei que havia de ser; a luz coada pelo globo fosco do alto candieiro, banhava de vagos tons dourados o seu cabello simplesmente penteado, torcido n’um grosso rolo luminoso sobre a nuca torneada e forte.

Não me lembro bem de como estava vestida, signal de que era tão despretencioso o seu trajo que não prendia nem demorava a attenção. Havia de ser por força bastante distincto para lhe não alterar a graça; bastante singelo para não dar um aspecto de artificio á sua natural e casta formosura.

Emquanto a ouvia ler, parecia-me comprehender melhor aquella grande alma luminosa do velho Michelet.