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MULHERES E CREANÇAS


Como estou velha, minha querida amiga de outros dias!

Lembrei-me tanto de ti, hoje, na igreja onde fui assistir ao casamento do meu Luiz!

Tem 24 annos, realisou as doces promessas que eu sonhara e sahiu hoje de casa de seus paes para outra casa que vae ser d’elle.

Tu não sabes a nuvem de tristeza que obumbra a minha alma, não sabes como todos os egoismos humanos se revoltam em mim, e ameaçam fazer-me naufragar na sua formidavel tempestade!

Oh! deixa-me desabafar comtigo!

Quem é que ainda revelou ao mundo o martyrio que crucifica as mães!

Foi para outra que eu andei formando aquelle divino thesouro com todas as riquezas que pude juntar dentro da minha alma!

Tantas noites que velei a pensar, a estudar, a pedir á voz intima da consciencia que esclarecesse e fortalecesse e guiasse o meu fragil coração de mulher!

Tantos annos de abnegação profunda, de abnegação sem nome, de todas as horas, de todos os instantes, esquecida de tudo que não fosse aquella alma pequenina que andava a crear e a robustecer.