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MULHERES E CREANÇAS

negra dos seus cabellos, um fio de prata, o primeiro, invisivel para todos os olhos, mas que o espelho revelou aos seus.

Esse fio traz preso a si a desventura!

Oh! ella reinou, dominou, teve subjugadas aos seus pés todas as forças e todas as vontades!

A casa, mesmo sendo a casa um ninho fôfo e perfumado, parecia-lhe bem pequena e bem mesquinha para theatro dos seus triumphos.

Era das salas que ella gostava!

Do murmurio surdo, abafado, voluptuoso de admiração, que ella excitava ao entrar nos salões pelo braço do seu pobre marido, muito enfastiado e soberanamente ridiculo!

Como todos gabavam o sabio decote do seu corpete, revelando com uma indiscrição que accendia invejas e desejos em torno d’ella — invejas e desejos que a enroscavam como serpentes de fogo — a brancura do seu collo e dos seus hombros, aquella brancura setinosa de camelia, que o orvalho da madrugada humedeceu.

Como era magestosa a cauda do seu vestido! como as flôres e as perolas se ennastravam bem nas suas tranças opulentas! como os braceletes de brilhantes mordiam de raios iriados a carnação explendida dos seus braços!