Página:Negrinha- Contos (1920).pdf/18

Wikisource, a biblioteca livre
Saltar para a navegação Saltar para a pesquisa

18 NEGRINHA


— Quem é, titia ? perguntou uma das meninas, curiosa.

— Quem ha de ser? disse a tia num suspiro de victima — uma caridade minha. Não me corrijo, vivo criando essas podres de Deus... Uma orphã... Mas brinquem, filhinhas, a casa é grande, brinquem por ahi a fóra.

"Brinquem !" Brincar ! Como seria bom brincar ! reflectiu com suas lagrimas, no canto, a dolorosa martyrezinha que até alli só brincára, em imaginação, com o cuco.

Chegaram as malas e logo,

— Meus brinquedos ! reclamaram as duas meninas.

Uma criada abriu as malas e tirou-os fóra.

Que maravilha ! Um cavallo de rodas !... Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginára coisa assim, tão galante. Um cavallinho ! E mais... Agora... Que era aquillo? Uma criancinha de cabellos amarellos... que fala "papá"... que dorme...

Era de extase o olhar de Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem siquer sabia o nome