Página:Negrinha- Contos (1920).pdf/85

Wikisource, a biblioteca livre

O JARDINEIRO TIMOTHEO 83

Ignorantes da lingua do jardim, riam-se elles da maluquice do Timotheo, incapazes de lhe alcançar as intenções.


Timotheo era feliz. Raras creaturas realizam assim na vida mais formoso delirio de poeta. Sem familia, creára uma familia de flôres : pobre, vivia ao pé de um thesouro.

Timotheo era feliz. Trabalhava por amor, conversando com a terra e com as plantas, embora a copa e a cozinha implicassem com aquillo:

— Que tanto resmunga o Timotheo ! ? Fica ali mamparreando horas, a cochichar, a rir, como se estivesse no meio d'uma criançada...

E' que as flôres transfiguravam em seres vivos ante sua imaginação. Tinham cara, olhos, ouvidos. Diziam-lhe coisas, sussurravam queixas... O jasmineiro, pois não é que lhe dava a bençam todas as manhãs ? Mal Timotheo apparecia, murmurando : — A bençam, Sinhô — e já o velho, encarnado na planta, respondia com voz alegre :

— Deus te abencôe Thimoteo.