Página:O Brasil Holandês sob o Conde João Maurício de Nassau, 1940.pdf/25

Wikisource, a biblioteca livre

sas, à conta dos trabalhos, despesas e perigos. Entretanto, aumentando com os próprios prejuízos a coragem dos mercadores e buscando-se esperança no próprio desalento, venceram-se as dificuldades que os estorvavam, e cresceram desde então os lucros a tal ponto que as ações de cada um dos sócios da Companhia subiram a mais do quádruplo. Não é também a temeridade e a confiança dos mercantes que já tornam vendível a colheita do ano, quando ainda é objeto das esperanças e dos temores?

Celebes, Gilolo, Ceir, Filipinas. Despenseiros agora e distribuïdores de tantas riquezas, vendemos a outras nações as mercadorias dantes compradas aos venezianos e espanhóis, e monopolizamos algumas que foram antes a veniaga de outros. E não é insignificante hoje o nosso tráfico e domínio no Oriente. Navegamos o Golfo Arábico e Pérsico e as costas da Pérsia. Fizemos nossas as mais das Molucas. Edificámos em várias ilhas: Taprobana, hoje Samatra (9), Java, a maior, Tajovana ou Formosa e outras. Ficamos sabendo quais são as Sindas e Barussas de Ptolomeu. Entabolámos relações comerciais com os chins e japões. Mandamos frotas para aquém e para além do Indo e do Ganges. Conquistamos a Áurea Quersoneso ou (10) Malaca.

Amplitude do comércio no Oriente. Comerciando alí, damos notícia dos reinos de Cambaia, Narsinga, Malabar, Orixá (11), Bengala, Pegú, Sião e Camboja. Visitámos ou admirámos Ormuz, Ispaão, Coromandel, Goa, Calecute, os empórios de Aiderabade (12) às margens do Indo, de Bengala junto ao Ganges e de Bantão noutra parte. Afizemo-nos a ouvir os títulos dos soberanos asiáticos: “sufís” (13) ou reis da Pérsia, o “grão-mogol”, o “micado” ou imperador do Japão. Ligados, em muitos lugares, aos reis por laços de amizade e por tratados, defendemolhes as cidades e as fortalezas da violência e ciladas de inimigos mais poderosos.

Mercadorias do Oriente. Os tesouros e o dinheiro da Companhia, fôrça e nervo do comércio, já em localidades do litoral, já do interior, ocupam agentes, institores e contabilistas, para que o Oriente inteiro, dominado pelo tráfico dos nossos patrícios, se desenvolva com os capitais dos holandeses e se enriqueça com os seus negócios. E assim, fundando colônias, já não seremos tidos por estrangeiros, mas por nacionais. Nos armazéns e trapiches da Holanda, vemos todos os produtos das vastas plagas orientais, e nós, filhos do Norte, comemos os frutos nascidos no Levante. São veniagas nossas a pimenta, o macís, a noz