Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/138

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dormem no chão como porcos e não comem senão ervas.

— Então que diabo querias tu que eles comessem? exclamou o cônego Dias lambendo os dedos depois de ter esburgado a asa do capão. Querias que comessem peru? Cada um como quem é!

O bom abade puxou, repoltreando-se, o guardanapo para o estômago, e disse com afeto:

— A pobreza agrada a Deus Nosso Senhor.

— Ai filhos! acudiu o Libaninho num tom choroso, se houvesse só pobrezinhos isto era o reininho dos Céus!

O padre Amaro considerou com gravidade:

— É bom que haja quem tenha cabedais para legados pios, edificações de capelas...

— A propriedade devia estar na mão da Igreja, interrompeu Natário com autoridade.

O cônego Dias arrotou com estrondo e acrescentou:

— Para o esplendor do culto e propagação da fé.

— Mas a grande causa da miséria, dizia Natário com uma voz pedante, era a grande imoralidade.

— Ah! lá isso não falemos! exclamou o abade com desgosto. Neste momento há só aqui na freguesia mais de doze raparigas solteiras grávidas! Pois senhores, se as chamo, se as repreendo, põem-se a fungar de riso!

— Lá nos meus sítios, disse o padre Brito, quando foi pela apanha da azeitona, como há falta de braços, vieram as maltas trabalhar. Pois agora o verás! Que desaforo! - Contou a história