Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/140

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— É mentira! clamou o Brito. E falando de um jato: - Quem anda a espalhar isso é o morgado da Cumiada, porque o regedor não votou com ele na eleição... Mas tão certo como eu estar aqui, quebro-lhe os ossos! - Tinha os olhos injetados, brandia o punho: - Quebro-lhe os ossos!

— O caso não é para tanto, homem, considerou Natário.

— Quebro-lhe os ossos! Não lhe deixo um inteiro!

— Ai, sossega, leãozinho! disse o Libaninho com ternura. Não te percas, filhinho!

Mas recordando a influência do morgado da Cumiada, que era então oposição e que levava duzentos votos à uma, os padres falaram de eleições e dos seus episódios. Todos ali, a não ser o padre Amaro, sabiam, como disse Natário, "cozinhar um deputadozinho". Vieram anedotas; cada um celebrou as suas façanhas.

O padre Natário na última eleição tinha arranjado oitenta votos!

— Cáspite! disseram.

— Imaginem vocês como? Com um milagre!

— Com um milagre? repetiram espantados.

— Sim, senhores.

Tinha-se entendido com um missionário, e na véspera da eleição receberam-se na freguesia cartas vindas do Céu e assinadas pela Virgem Maria, pedindo, com promessas de salvação e ameaças do Inferno, votos para o candidato do governo. De chupeta, hem?

— De mão-cheia! disseram todos.

Só Amaro parecia surpreendido.

— Homem! disse o abade com ingenuidade,