Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/162

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— Que diabo! ao menos está um homem à sua vontade, resumiu ele.

— Que está para aí o mano a falar só? perguntou a Sra. D. Josefa, despertando do quebranto em que ia caindo, ao pé do lume.

— Estava cá a ma1ucar como hei-de castigar a carne na quaresma - disse o cônego com um riso grosso.



A essa hora a Ruça chamava o padre Amaro para o chá: e ele subia devagar, com o coração pequenino, receando encontrar a S. Joaneira muito carrancuda, já informada do insulto. Achou só Amélia - que tendo-lhe sentido os passos na escada tomara rapidamente a costura, e, com a cabeça muito baixa, dava grandes agulhadas, vermelha como o lenço que abainhava para o cônego.

— Muito boa noite, menina Amélia.

— Muito boa noite, senhor pároco.

Amélia costumava sempre ter um olá! ou um ora viva! muito amável; aquela secura aterrou-o; disse-lhe logo muito perturbado:

— Menina Amélia, eu peço-lhe que me perdoe... Foi um atrevimento... Eu nem soube o que fiz... Mas acredite... Estou resolvido a sair daqui. Até já pedi ao Sr, cônego Dias que me arranjasse casa...

Falava com o rosto baixo - e não via Amélia erguer os olhos para ele, surpreendida e toda desconsolada.

Neste momento a S. Joaneira entrou, e logo da porta, abrindo os braços:

— Viva! Então já sei, já sei! Disse-me o Sr.