Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/177

Wikisource, a biblioteca livre

repelia-a com irritação; e acolhia alvoroçadamente todas as razões insensatas que lhe vinham de amar o padre Amaro! Tinha agora só uma idéia - atirar-lhe os braços ao pescoço e beijá-lo, oh! beijá-lo!... Depois, se fosse necessário, morrer!

Começou então a impacientar-se com o amor de João Eduardo. Achava-o "palerma".

— Que maçada! pensava quando lhe sentia os passos na escada, à noite.

Não o suportava com os seus olhos voltados sempre para ela, a sua quinzena preta, as suas monótonas conversas sobre o governo civil.

E idealizava Amaro! As suas noites eram sacudidas de sonhos lúbricos; de dia vivia numa inquietação de ciúmes, com melancolias lúgubres, que a tornavam, como dizia a mãe, "uma mona, que até enraivece"!

O gênio azedava-se-lhe.

— Credo, rapariga! que tens tu? exclamava a mãe.

— Não me sinto boa. Estou para ter alguma!

Andava, com efeito, amarela, perdera o apetite. E enfim uma manhã ficou de cama com febre. A mãe, assustada, chamou o doutor Gouveia. O velho prático, depois de ver Amélia, veio à sala de jantar sorvendo com satisfação a sua pitada.

— Então, senhor doutor? disse a S. Joaneira.

— Case-me esta rapariga, S. Joaneira, case-me esta rapariga. Tenho- lho dito tantas vezes, criatura!

— Mas, senhor doutor...

— Mas case-a por uma vez, S. Joaneira, case-a por uma vez! repetia ele pelas escadas, arrastando