fazia ao desenvolvimento da paixão de Amélia uma atmosfera favorável. D. Maria da Assunção dizia-lhe às vezes ao ouvido:
— Olha para ele! É de inspirar fervor. É a honra do clero. Não há outro!...
E todas elas achavam em João Eduardo "um presta para nada"! Amélia então já não disfarçava a sua indiferença por ele: as chinelas que lhe andava a bordar tinham há muito desaparecido do cesto do trabalho, e já não vinha à janela vê-lo passar para o cartório.
A certeza agora tinha-se estabelecido na alma de João Eduardo - na alma, que como ele dizia, lhe andava mais negra que a noite.
— A rapariga gosta do padre, tinha ele concluído. E à dor da sua felicidade destruída juntava-se a aflição pela honra dela ameaçada.
Uma tarde, tendo-a visto sair da Sé, esperou-a adiante da botica, e muito decidido:
— Eu quero-lhe falar, menina Amélia... Isto não pode continuar assim... Eu não posso... A menina traz namoro com o pároco!
Ela mordeu o beiço, toda branca:
— O senhor está a insultar-me! - e queria seguir, toda indignada.
Ele reteve-a pela manga do casabeque: '
— Ouça, menina Amélia. Eu não a quero insultar, mas é que não sabe. Tenho andado, que até se me parte o coração. - E perdeu a voz, de comovido.
— Não tem razão... Não tem razão, balbuciava ela.
— Jure-me então que não há nada com o padre!