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Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/253

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padre Silvério; e em bicos de pés, plantado diante dele, agitava freneticamente as mãos muito magras. Depois, subitamente, apoderou-se-lhe do braço, arrastou-o ao comprido do terraço lajeado: ao fundo parou, recuou, fez um gesto largo e desolado, como atestando a perdição possível dele, da Sé ao lado, da cidade, do universo em redor; o bom Silvério, com os olhos muito abertos, parecia apavorado. E recomeçaram a passear. Mas Natário exaltava-se; dava recuões bruscos, atirava estocadas com um longo dedo ao vasto estômago de Silvério, batia patadas furiosas nas lajes polidas; e de repente, de braços pendentes, mostrava-se acabrunhado. Então o bom Silvério falou um momento com a mão espalmada sobre o peito; imediatamente, a face biliosa de Natário iluminou-se; pulou, bateu no ombro do colega palmadinhas de muito júbilo, - e os dois sacerdotes entraram na Sé, chegados e rindo baixinho.

— Que patuscos! disse o escrivão Borges, que detestava sotainas.

— Aquilo tudo é a respeito do jornal, disse Artur Couceiro, vindo retomar o seu trabalho lírico. O Natário não sossega enquanto não souber quem escreveu o Comunicado; disse-o ele em casa da S. Joaneira... E a coisa pelo Silvério vai bem, que é o confessor da mulher do Godinho.

— Corja! rosnou o Borges com nojo. E continuou pachorrentamente o ofício que compunha, remetendo para Alcobaça um preso - que ao fundo da saleta, entre dois soldados, esperava sobre um banco, prostrado e embrutecido, com uma face de fome e as mãos em ferros.